domingo, 5 de novembro de 2017

A Revolução Russa - uma opinião e uma história

Gosto de ler os textos que o José Jorge Letria vai escrevendo no jornal. Hoje escreveu sobre a Revolução Russa que faz cem anos que se deu. Achei interessante mais pela história do pobre embaixador português que a viveu. Como sempre, os nossos governantes sempre esquecem os seus representantes que se encontram em dificuldades.

Escreve Letria: «No princípio de abril estive em Moscovo por motivos profissionais e institucionais, na minha quarta deslocação à capital russa depois do 25 de Abril, e confesso que nada vi nas ruas, no hotel, no metro e até em espaços museológicos que me fizesse lembrar a comemoração do centenário da Revolução Russa. O sentido do marketing político e a relação pragmática com a sociedade de consumo recomendaria uma presença visual mais forte desse imaginário que reflete mudanças profundas na história da Rússia e do mundo. Mas fiquei com a sensação, talvez próxima de uma complexa realidade política e psicológica, de que o país de Putin não se revê na Rússia revolucionária de Lenine e bolcheviques, embora o presidente seja resultado desse contexto e do quadro político que ele implantou. (…)

A Revolução Russa ocorreu há um século e contribuiu para mudar o mundo. Houve um português, o diplomata Jaime Batalha Reis (1847-1935), que a viu de perto, por ser embaixador em Petrogrado. Estava ali acompanhado por duas filhas adultas e, sendo republicano, não nutria particular simpatia pela transformação política operada no país. Não gostou do que viu e viveu. Viu lojas e casas assaltadas, teve fome e frio e viu assassinatos. Teve medo e disse-o em português nos relatórios enviados a Lisboa. "Vivo com a família há pelo menos seis meses em perigo de vida permanente agravada por falta de dinheiro. Tenho tido fome e frio. Terei de partir inopinadamente com dificuldade. Suplico a V. Exa. que leia meu último telegrama sobre assunto não respondido e mande pôr urgentemente à minha ordem no Provincial National Bank Londres pelo menos mil libras esterlinas extraordinárias."

O seu senhorio octogenário, que fizera parte da corte do imperador, foi enforcado ao fim da tarde na sala de jantar. Batalha Reis estava exausto e aterrorizado. Queria fugir e chegar a Lisboa. Tinha 66 anos, em fim de carreira e chegou a conhecer Lenine, na presença de outros embaixadores, em clima de grande tensão. Só o jornalista comunista norte-americano John Reed se movimentava em Moscovo com liberdade e conhecimento profundo, o que lhe permitiu escrever a obra-prima Dez Dias Que Abalaram o Mundo, que ainda se lê com emoção e prazer. De Lisboa chega ao diplomata Batalha Reis pouco amparo e consolo. (…)

Lenine e os bolcheviques triunfaram e o resto é o que a história registou e que mudou em aspetos tão profundos a relação dos povos em vários continentes. Estava lá um português, mas de partida, no meio de grande sofrimento.»

Para ler o artigo completo:


Jaime Batalha Reis





5 comentários:

  1. Estive a ouvir o Jaime Nogueira Pinto e o Rúben Carvalho debaterem a Revolução Russa.
    Excelente, como sempre.
    Beijos, boa semana

    ResponderEliminar
  2. Sempre fomos "pequeninos". Esta é mais uma estória a somar a tantas outras, que confirmam a História. A nossa, como País.
    Termino com isto: nunca o sangue fará uma revolução. Dito de outro modo, "não há machado que corte a raiz ao pensamento. A não ser que se extermine a humanidade até que reste um único homem. Mas então tornar-se-á impossível fazê-la.
    Apesar de todos os prós e os contras há que acreditar na utopia. É essencial.

    Grato pelas palavras amigas que deixou no Mundo.
    Bj.

    ResponderEliminar
  3. Querida Gracinhamiga I

    Gostei da Transcrição ddo orinal. Mas, onde está o cmentário?

    Bjs da Raquel e qjs do Henrique, o Leãozão

    ResponderEliminar
  4. Gostei de ler, Graça. Não conhecia a história de Batalha Reis. Como era de esperar o poder nada fez para o ajudar. Em relação à Revolução russa, ela não pode apagar-se da História, apesar dos que não gostam dela e até dos que gostam...
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  5. Há coisas que não se apagam, simplesmente, por delas não se falar. A RR é uma delas. Gostei de ler sobre a história, triste, desse diplomata português, na Rússia. E gosto de ler Jorge Letria. Muito, mesmo.
    Pena não ver aqui outras opiniões...daqueles que gostam de opinar sobre tudo e todos!

    Beijinhos e boa semana, Graça.

    ResponderEliminar